O primeiro registro de surto de varíola em Encontra Cotia data de 1791. Antes de continuar com este assunto um tanto mórbido, quero convidá-los a criar um cenário usando ficção e História, de como era Cotia no final do século XVIII. Já imaginou? Na praça da matriz, olhando no horizonte nevoento, ao fundo a Igreja de 1713, a venda de escravos e o comércio agitado pelos tropeiros com destino ao sul. Imaginou o burburinho das rezadeiras encomendando mais uma alma vitimada de bexiga, como era conhecida a varíola? Mais um detalhe, os corpos não podiam ser enterrados em solo sagrado, daí a necessidade de criar um cemitério em outro lugar, como revela documento
da Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat. E a vida vai sendo levada melancolicamente.
“Aos 18 do mês de outubro de 1791, com licença benzi um cemitério perto desta freguesia, de fronte da Cruz das almas que está no caminho que vai para Sorocaba e perto de um pinheiro, para serem sepultados os corpos dos que falecerem de bexigas e males contagiosos para não infectar o povo todo. E para constar, fiz este termo que assino”.- o Vigário Fernando Lopes de Camargo.(Tombo de Cotia: 1728-1844, p.65v. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva).
Cento e trinta e sete anos depois, outro surto de varíola assombra Cotia e região. No inicio do século XX, Cotia e o Brasil, agora republicano, ainda guardam muita semelhança com a freguesia da Cotia colonial. Um relatório de higiene datado de 1926 detalha o surto de bexiga na cidade. O documento apresentado pelo médico E. de Almeida Prado mostra a precariedade em relação à educação sanitária local, motivo da facilidade do avanço da epidemia. O relatório, que é um estudo de cinco anos de medicina e foi apresentado no Instituto de Higiene de São Paulo, aponta a dificuldade em classificar a mortalidade no município como podemos verificar:
“A ausência de médico no município muito contribui para a deficiência nas estatísticas de mortalidade, todas as mortes se catalogando entre as mal definidas ou acidentais, como se verifica nos comunicados do cartório local. Apenas em 1924 vemos um ligeiro esboço de discriminação por doenças, devido talvez ao fato de alguns médicos desta Capital lá terem ido se refugiar durante os dias anormais de São Paulo, presa de um movimento subversivo”.
Fonte: Cotia Todo Dia